E ai Sociedade?
Esse é o meu primeiro texto autoral, então peguem leve!
Alyson quer ser grande
Nós nascemos na segunda
metade dos anos 80 durante os anos 90 ou nos primeiros anos de 2000. Nós
não lembramos como a vida era sem internet, celular ou Paxil. Fizemos a proeza
que nunca imaginamos na quinta série, largamos o presente do verbo “to be”,
o substituímos em todas as oportunidades pelo seu futuro "will".
Nós somos a
geração que está construindo o mundo.
Somos mães aos
quinze, viajamos aos vinte e nos divorciamos antes dos trinta. Nós somos a geração que está destruindo as relações ao redor do mundo.
Conflito de agenda
e grupos de WhatsApp têm resumido nossas amizades.
A gente nem lembra
como é passar horas sorrindo sem a internet. Quando encontramos nossos amigos,
os comentários engraçados se originam em alguma página do Facebook, os
comentários de beleza vem de algum Instagram e nosso conhecimento cientifico é
facilmente encontrado em blog com a logo do Shazam.
Não é difícil
escutar alguém dizendo que usa fones de ouvidos mesmo sem música ou que está
lendo no celular quando nem queria ler, o que é difícil e entender como nós
chegamos ao ponto de usar fones para não cumprimentar desconhecidos e fingir
que lemos para evitar o contato visual.
Nós somos a
geração que não se apaixona. Em média metade de nós, não tem tempo pro amor, e
outra metade não tem tempo pro sofrer, seja qual for a desculpa, a regra é clara: Não se envolver.
Pra ser mais
exata, o manual é curto e grosso:
1 - Não crie
vínculos!
2 - Não conte seus
sonhos!
3 - Não façam
planos!
Qualquer um deles pode ser perigoso, afinal, beijar uma pessoa quando você sabe as séries que ela assiste as bandas que ela ama ou os filmes que ela ovaciona é o maior risco atual.
Já imaginou querer
mandar uma mensagem pra ela no meio da manhã com algum meme engraçado daquela
série? Acho que não, Deus nos livre de mostrar interesse, somos todos desprendidos.
Quando vocês
estiverem bêbados, seja de cachaça ou apenas embriagados pelo brilho do luar e
a sensação de liberdade chegar, fuja! Já imaginou se você por algum acaso conta
pra ela que seu sonho é ser pai? Imagina só, o que não pensariam de você se
você contasse para ele que seu maior sonho é ser mochileira? Imagina o
desequilíbrio no cosmos ou a tremedeira que daria na mão de Deus se você
achasse engraçado ser uma mãe mochileira e ele achasse bonitinho criar o filho
ao redor do mundo... Consegue perceber e que contar seus sonhos só pode
destruir o seu futuro?
Ah... What about fazer planos? Claro que você não vai ficar
fazendo planos com um completo desconhecido, afinal, passar algumas horas com
um cara legal não quer dizer que isso poderia se repetir não é mesmo? Qual é a
necessidade? Tantos caras legais por aí e você querendo ver o mesmo cara legal,
já pensou no trabalho que ia dar conciliar as agendas? E encontrar os amigos
dele por aí? Menina imagina só se suas amigas te vêm com ele, como você vai explicar que saiu com o mesmo
cara duas vezes?
Obviamente elas
vão saber que vocês fizeram planos, mas, planos não são pra gente, nós nascemos para a vida livre e desregrada.
Qual é o tipo de pessoa que sai com alguém e já quer marcar para sair de novo
antes do primeiro e outro acabar? Eita, espera aí, eu disse primeiro encontro?
Que coisa primeira metade dos anos 80! O que a gente faria mesmo seria “marcar
outra boa, antes do rolê acabar.” Mas, a gente nunca marca, sem a menor condição
parasse interessado.
As pessoas nos
julgam, elas não entendem. Definitivamente é
horrível ter quinze, vinte, vinte e poucos anos em 2016, a gente precisa trabalhar
em um trabalho bom a gente precisa estudar pra sempre e sem parar é o único jeito que a gente tem de se tornar alguém
na vida.
Como explicar pros nossos pais que não é viável ter uma namorada
quando temos tanta coisa pra fazer? Imagina só explicar para a mina os happy
hours do trabalho? Como assim, além de namorar, dedicar tempo, paciência, a
gente ainda precisa provar confiança?
E quanto às
meninas que precisam mandar foto das noites das meninas para que os namorados
saibam que elas estão só com as amigas? E mesmo que essa noite aconteça uma vez
a cada dois meses tem namorado que vai se irritar porque a tal noite foi
marcada "em dia de namorar".
Nós, que somos tão
destemidos e tão livres, precisamos gerir a vida num schedule sem fim.
"dia de ficar com os pais", "dia de namorar", "dia de
ir pra igreja", "dia de rever antigos amigos do trabalho"...
Esse não para matar saudades, nós substituímos matar saudades por “estreitar
networks.”
Agora, deitada na
cama, encarando a porta do meu quarto eu vejo o meu schedule, de tão intensa
que a vida ficou, eu precisei fazer uma planilha pra me organizar, e agora,
as lágrimas começam a brotar quando eu lembro que só segui esses planos
que fiz com tanta esperança por três dias...
Três dias depois a vida já tinha ficado mais intensa e naqueles sete
dias, já não cabia.
Eu gostaria muito
de falar um pouco mais sobre amizades, para aqueles que nasceram nos anos 2000,
não se preocupe, a Internet vai facilitar seu contato com as suas BFFs ou
parceiros atuais, não que vocês venham a trocar mais do que meras formalidades
futuramente não é isso, mas, relaxa, o
Facebook ainda vai estar aqui para te lembrar do que você fez nesse dia alguns
anos antes, então a nostalgia vai bater e desses amigos você vai lembrar, não,
as meras formalidades não incluem aniversário,
natal e ano novo, okay? Aqueles que se lembrarem de você nessas datas,
precisam ser queridos. As formalidades das quais eu falo é em caso de morte ou
nascimento. Virão os pêsames ou os parabéns, de pessoas que hoje você diz que
serão Madrinhas/Padrinhos dos seus filhos, é
triste, eu sei. Mas, é a realidade. E outra coisa, não se prenda a
amores adolescentes que nos dão o mundo e levam tudo o que temos como se fosse
direito deles. Menino, ela não te ama tanto assim, só precisa ter uma namorado perfeito, num ensino médio perfeito, para esconder as imperfeições da vida dela, e
cá entre nós menina, ele não é tudo isso, é só mais um. Apenas.
As nossas
amizades, galerinha dos anos 80 / 90, são um pouco mais sólidas, eu sei que
você deve estar ensandecido porque conservou amigos do jardim de infância, calma,
eu sei que isso acontece e, você
não é o único, mas, para e pensa em todas as amizades que ficaram
pela vida, quando eu falo de amizade
é aquela pessoa pra quem você corre nos
momentos de aperto e se joga de sapato e tudo no sofá ou na cama, não essas pessoas que você fica anos sem
ver, diz que vai amar para sempre, mas,
nunca sabem um milímetro do seu presente.
Amizade é
basicamente cuidado, companheirismo e dedicação, e sabe o que isso demanda?
TEMPO. E nós? Nós, não temos esse tempo!
Se agarre aos que
sobraram, pegue os que ficaram sem medo e sem vergonha, eu sei que a amizade não
é mais a mesma, eu sei que tudo mudou, eu sei que aquela amiga já foi falsa, mas,
também sei que até sua mãe fala mal de você então não julgue sua amiga. Outra
coisa que eu sei é que ele "pegou tua mulher", mas, ela não pertencia
a você não é mesmo? Ou você a comprou?
A gente teve a
sorte de construir amizades longe da Internet ou na época do Orkut, não vamos
abrir mão disso por qualquer passado.
Aaaah, ia quase me
esquecendo, eu amo meus amigos virtuais, ame os seus também!
Mas lembre que a
vida é o que acontece aí e a sua vida é baseada em quem tá do seu lado
segurando sua mão e enfrentando o mundo com a mão livre, valorize isso, sempre!
Por fim, vamos
voltar a falar de amor? Não. Exatamente. A gente ainda não falou de amor.
A gente não fala
de amor, né? A gente é grande demais para ele. A gente é forte demais, bonito
demais, a gente é carne boa demais pra amar.
Somos a geração
que nunca de despede, que nunca se apega, que nunca chora, que nunca sofre e
que nunca, mas, nunca mesmo,
faz amor.
Nossas relações
andam tão instantâneas, andam tão "sempre que der a gente se vê", que
uma hora para de dar e a gente nem percebe que parou de se ver. Mas, dói.
Nossas relações
andam tão abertas que a gente não passa o dia vendo filme velho na TV, a gente
não divide um chiclete por que ninguém quer sair do sofá e passar frio. A gente
já aprendeu a agir egoistamente nessa situação, a gente deita com uns cinco
chicletes, na verdade cada um com seus cinco. Afinal, Deus nos livre se apegar
e ficar dividindo chicletes... Mas, toda vez que a gente senta sozinho com os
nossos cinco chicletes, a gente percebe que se apegou, porque sente falta do
outro ali, com os outros cinco chicletes.
Nós somos a
geração de mulheres que sai sozinha com as amigas e percebe cinco ligações
perdidas do tal “cara que espera as oportunidades surgirem”, a gente encara o
celular,ri e segue em frente. Mas, aí a gente lembra que se a situação fosse o
contrário, nós seríamos as malucas, afinal, "vocês nem namoram e você fica
ligando pra ele sexta à noite", e a gente chora.
Porém, encontramos uma geração de homens sensíveis,
que muda de vida por causa da mulher que ama, que abre mão da vida pra fazê-la
feliz, aqueles homens que entendem o que é sororidade e apoiam nossa luta
feminista, mas, aí em algum momento a mulher que vai desistir dele e como nunca
pensamos antes na história desse país, o homem também chora.
Nós somos essa
geração. A geração do 15 ou dubble 15.
Temos entre quinze
e trinta anos e nós não sofremos.
Aos quinze a gente
já teve decepções suficientes com namorados e amigos para perder tempo
sofrendo, aos vinte o nosso primeiro namorado fingiu não ouvir a gente sussurrando
pra parar no dia da nossa primeira vez, é
que a gente não tinha a menor certeza, a dúvida nos engoliu e como a gente não
gritou, nem fez escândalo então, não foi estupro, foi apenas um mal entendido. Aos
vinte os meninos já receberam da ex-namorada a notícia de que seria papai, a
camisinha que ela pediu para colocar com a boca, supostamente, “estourou
acidentalmente” e agora ele não sabe bem o que fazer. Aos vinte e cinco, a
mulher já sofreu demais como bola de sinuca, sendo jogada de um lado pro outro,
de um lado os homens e do outro as rédeas que a sociedade tenta impor, enquanto
ela definitivamente cansando de agradar a todos, percebeu que a saída mesmo é ser
feminista, meu corpo minhas regras, minha vida minhas rédeas.
E se entrega ao
movimento que tanto criticou um dia.
Aos vinte e conto
os homens já cansaram de ter de ser o macho alfa, ter de comer todas que aparecem, ter de ter
um bom trabalho dentro da sua área de formação, e no fim eles já se entregaram
pras bebidas ou pra várias mulheres que estariam fora de questão.
Aos trinta ela
continua solteira e independente almejando aquele cargo de gerente e ele, que
foi gerente aos vinte e sete agora já está divorciado. Mas, tudo bem, eles
conseguiram o que queriam e ninguém mais esta atrapalhando. Essa rotina é aquela
que deixa claro que mesmo fugindo a vida inteira de sofrer, a gente sofre.
E é claro, a gente
passou os últimos quinze anos fodendo. trepando. metendo. Se você passou dos
vinte, você já deu um pentada violenta, não tente negar. Ah, se você é da
segunda metade dos anos oitenta, eu sei que você já molhou o biscoito,
mas, vamos falar para todos os públicos
aqui, dos quinze aos trinta, é mais do
que claro que ultimamente a única coisa que temos feito é “dado umazinha”.
Eu sei, eu sei,
aparentemente o texto desceu o nível,
mas, não desceu, seu
conservadorismo que acha que sexo ainda é tabu.
Mas, sabe o que me
choca? A gente não faz mais amor. A gente entrega o corpo pro outro, mas, é um outro que não pode saber nada sobre você, sentir
nada por você, sonhar nada com você e muito menos dormir de conchinha no fim da
noite... Apresentar pros pais então, sem condições! Apresentar pros pais é muita intimidade, e nós não gostamos desse tipo de intimidade.
A gente gosta
mesmo é de comer todo mundo, é gostoso
ter uma mulherzinha diferente a cada noite do fim de semana, só assim ninguém
se apega e é necessário que ela goze, do contrário ela vai saber que você é um
egoísta de merda que só pensa em si mesmo, então, você não vai deixar ela sem o
cala a boca dos últimos três anos, não é mesmo? Afinal, depois que se as
mulheres souberam que elas também gozam, ficou complicado comer várias em uma
mesma noite né parceiro?
E eu sei mana, eu
sei, que dar é gostoso, que não precisar dizer em te amo olhando nos olhos dele
enquanto ele goza é libertador. Mas, relaxa, um amigo comentou comigo ontem que homem não
pensa de pau duro, então se você o ama ou não, não faz a menor diferença.
Eu te entendo,
você foi usada muitas vezes e agora precisa retribuir ou apenas ser você mesma,
se descobrir, todo mundo passa por isso. Sei também que fazer amor com um cara
que só tá te comendo é furada eu já passei por isso sei como é ficar dizendo
pra si mesma que a gente tá certa de se entregar e eles estão vazios por serem
sempre egoístas, e sei que isso é mentira, que eles acabam essa relação
satisfeitos e a gente partida... Sei que é tenso.
Mas... Então,
vamos parar, vamos repensar... Já tem sido pelo menos quinze anos assim né? Tá
na hora de isso mudar, a gente precisa parar, por favor, por nós mesmos...
Será que a gente
não tá vendo quão destrutiva nossa vida tem sido?
Eu rio, eu grito, eu
falo alto, eu tenho uma fé que não é
muito grande, mas, é inabalável, eu
choro, eu sofro, eu fico ansiosa, eu planejo casar com caras de livros, eu
sonho com o dia que eu não vou dormir porque vou ficar acordada trocando
mensagem com o crush com a mesma intensidade que eu acredito que Deus não vai
me dar qualquer um pra marido e que eu provavelmente vou beijar o crush mais
vezes do que eu queria, mas, vou beijar
meu marido só quando a gente fizer uns 6 meses de namoro, sim, existe namoro
sem beijo, não surtem.
Essa sou eu, eu
sou de carne e osso, eu sou de verdade, eu acerto, eu sou maravilhosa, eu sonho, eu erro, eu peco, eu tenho
problemas sérios, eu não sou o suficiente e por fim eu sou eu mesma, sou assim e não existe o menor problema nisso, e eu preciso parar de sentir medo de me
mostrar pros meus amigos e pros crushes.
Eu quero saber que não tem problema ser de
verdade, eu quero saber que não é errado
dizer a verdade quando perguntam se eu tô bem,
porque eu já tô cansada, eu quero
dizer que não, quero dizer que chorei
outro dia vendo a planilha do meu quarto,
quero dizer que sofro porque apesar de saber que não foi culpa
minha, também não foi falta de
culpa, quero fazer amor com alguém que
me olhe nos olhos e volte na próxima semana sem achar que eu quero ter filhos
só porque a gente tá se vendo duas semanas seguidas e se eu quiser ter um
filho, quero que o carinha se permita
pensar "e se", porque é isso o
que mais falta na humanidade hoje em dia, abertura as possibilidades da vida. Mas essa, essa sou eu e talvez, essa também seja a Alyson e a Alyson quer ser grande!
Ela quer ser destemida, responsável dona de si, ao mesmo passo que quer ser independente, passar um ano fora e constituir família. Sempre disseram para ela que isso era ser gente grande...
Os anos passaram e agora ela tá preparada, mas, parece que o resto do mundo não. Então ela vai ficar, aqui, ao meu lado, apenas sonhando com a vida que poderia ter, como ela poderia ser se as pessoas grandes fossem amorosas e dessem valor pro que realmente importa, se as pessoas grandes não fugissem de si mesmas para não encarar algumas verdades, se as pessoas grandes se permitissem sentir, sofrer, amar, confraternizar e fazer amor sem maiores interesses... Mas, Alyson que há tanto tempo sonhou em ser grande e que hoje se permite ser grande é quem sente, sofre e chora, porque Alyson já percebeu que as pessoas desistiram de ser grandes.